domingo, 20 de abril de 2008

Bolinhos de barro.



Os pobres comem barro no Haiti, onde três quartos da população ganham menos de US$ 2 por dia, e uma em cada cinco crianças padece de desnutrição crônica, o único negócio que prospera em meio a todo este cenário cinzento é a venda de bolinhos feitos de barro, óleo e açúcar, um quitute dos desesperados, que geralmente só é consumido pelos mais pobres."Eles são salgados, contêm manteiga e a pessoa não sabe que está comendo terra", diz Olwich Louis Jeune, 24, que nos últimos meses tem comido com mais freqüência os bolinhos de barro. "Eles acalmam o estômago faminto".Mas o descontentamento dos dias de hoje no Haiti não está mais confinado ao estômago. Ele está expresso também em grafites nos muros da capital, e é gritado pelos manifestantes. Recentemente, Preval articulou uma resposta ao problema, usando dinheiro de auxílio internacional e reduções de preços por parte dos importadores para baixar o preço do saco de açúcar em 15%. Ele também diminuiu os salários de algumas autoridades graduadas. Mas essas medidas são consideradas temporárias. As soluções reais demorarão anos. O Haiti, com a sua indústria agrícola em frangalhos, precisa se alimentar melhor. O investimento estrangeiro é um fator chave para isso, embora investimentos exijam estabilidade, e não os saques e a violência generalizada provocados pelas manifestações contra a falta de comida. Enquanto isso, a maioria dos mais pobres sofre silenciosamente, já que essas pessoas estão demasiadamente fracas para partir para o ativismo ou muito ocupadas criando a próxima geração de famintos. Na enorme favela Cite Soleil, no Haiti, Placide Simone, 29, oferece um dos seus cinco filhos a um desconhecido. "Leve um", diz ela, embalando um bebê apático e apontando para quatro outros bebês esqueléticos. Nenhum deles comeu qualquer coisa hoje. "Leve-os. Só quero que você os alimente".


NEW YORK TIMES


2 comentários:

Tânia Defensora disse...

Como pode?
Que tristeza!
E quanta gente desperdiça comida...

Maria Fernanda disse...

Verdade Tânia.
bjs